segunda-feira, 10 de novembro de 2008


Busco no brilho o calmo dos ventos,

Tranqüilo bocejo, sentidos, momentos

E fujo das sombras, caídas em esquecimento.

Desejos se formam no inconsciente,

Deseja quem pode, não há quem lamente

O filme perdido, as calças molhadas,

Celebram-se as festas, preenchem-se arestas

Cobertas de beijos da livre modelo, da mina de ouro

Das danças na chuva, do belo tesouro.

Peço histórias e busco respostas,

Mas o que basta, que exclui qualquer mostra

É minha pepita, seu cheiro que encosta

Nos olhos que abrem,

E que não fecham mais

sábado, 8 de novembro de 2008

Felicidade vale ouro


Não se cria, tão pouco que almeja,
Se desperta e cresce, dispensando palavras
Alcançando as estrelas e, no êxtase da parábola,
Reluzindo como ouro!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Se for para ir, que seja junto a ti!



Quando há vontade, há perspectiva
E o mundo não esquece de você,
Há vontade, muita, há vontade ativa
E não há fábula qualquer que mude o que você pode ver.
No fim dá estrada há angústia, há dor e sofrimento
Se parece como aqui, mas é só por um momento.
São envoltas belas nuvens, como bolhas de sabão...
Qual mais uma luz branca no fim da estrada, em imensidão,
Chovem lágrimas e agulhas, sem nenhuma direção...
O desejo é prosseguir, e se for para partir, que seja junto a ti...
Se insistem tais agulhas com seu gume em pungir,
Não garanto uma blindagem, mas furado, eu prometo:
Ainda assim, irei sorrir

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Eu divago sempre, mas o mundo é real.



O divagar é a viagem da alma... Quisera ele que a frase tivesse saído de qualquer livro ou página amassada de jornal. Era um peso talvez grande demais, ser forçado a conviver com seus pensamentos e suas divagações, ele não tinha controle algum sobre aqueles, ele não via surpresa nessas. E, por mais infundado que pareça, já previa o sentimento e o palpitar que cada lembrança lhe seria capaz de transmitir num dado momento. O fato é que não conseguia parar de pensar; ele fazia o esforço, afinava as orelhas ao som do vento, às buzinas dos carros, à sua própria voz... Nada, somente um mar de divagações. Não demorava muito, logo após a encruzilhada de imagens e cheiros, ele se lembrava da pontada exata que viria a sentir; e tudo durava um piscar de olhos... Talvez cronômetro algum fosse capaz de medir. Seus fluidos, entretanto, captavam todo o descarregar, fosse de adrenalina ou lágrimas, e o registravam no infinito cristal da eternidade. Não era agradável, não era simples, mas havia uma vantagem: era familiar. Como se houvesse um horário programado, era tranqüilamente perceptível.
E lá mesmo, enquanto os carros continuavam a se movimentar, as pessoas ainda teciam ofensas às escondidas, ou declaravam seu amor abertamente. Parcelas da alma perdidas num mundo real, "indivagável". Às pessoas que não se contagiavam, restava desejar semelhança, ou sentir pena... Era tudo tão familiar... E eis aí o problema de o mundo ser real. À menor mudança de clima, a divagação não salva ninguém, e ninguém consegue prever seus atos por um motivo: no momento da realidade, nada é familiar.
Não havia se dado conta disso, tinha um vício no "conhecido", era impossível lidar com a realidade... Em seu íntimo, cascatas de torções, parcelas de espírito se contorcendo, úmidas, em uma maratona para transmitir a um momento concreto a utopia intocável... o resultado era o medo: era não saber se portar, era o choro que partia seu diafragma e gelava seus ossos. Não entendia o movimento dos planetas, que tão rapidamente transladavam e se voltavam para seus olhos, não encontrava elasticidade própria ao encarar uma bela dança, mas era o cheiro, o cheiro de futuro incerto, o que mais o incomodava... Não era familiarizado...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O incerto se encontra em mim





Se o mundo fosse perto, e se a vida fosse clara

Certamente então seria certo, e esse medo que me invade a cara

Não daria a impressão de infértil, fingimento de que passa, ou sara.

Ele pensa que o resto é resto, vira o rosto ao escutar teu nome

Na verdade, não é nada honesto... Em teu rosto, e somente nele

É que há conforto quando ele dorme.

Mas se o mundo fossse claro, e se a vida fosse fácil

Sem receio que seria faro, e esse peito então seria tátil

Não faria parecer tão raro, e meu choro então seria grácil.

Ele chora como todo dia, e se arranha de sufoco e dor

Como pode, como poderia, esquecer o gosto ou cor.

E se o mundo fosse fácil, e se a vida fosse riso

Todo corpo então seria hábil, não seria necessário um vício;

Era um rosto, era um corpo, eram gostos, aliás

Ah, meu tempo, volta tempo, volta logo, por favor, me faz olhar pra trás

Quero tanto ver o rosto que fazia algo a mais

De quem fujo hoje em dia, ao não saber o que se faz,

Se a vontade é só uma, a única que não posso fazer mais.

...Volta ao meu mar de garoa, eu não quero mais chorar, eu não quero a vida à toa, eu não sei o que pensar, eu quero chuva, eu preciso navegar, eu preciso impedir minha garoa de cessar. É justo nesse momento que as palavras vão findando, que meus olhos vêm caindo, o meu som vai se esvaindo, e os meus sonhos vão fechando.

sábado, 2 de agosto de 2008

O âmbar das noites, as marcas do chão



Porque é noite... e já passou-se o tempo de andar

Sozinho.

É fábula real, é novena de quintal, é a roupa que seca no varal

Ao vento.

Tal qual som, de cascalho quebrando, esmagado por pés

Na chuva.

Porque é noite, e as marcas do chão são cobertas por mar...

Garoa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Eclíptica-21 julho

Meus pés, que tanto andaram,
Compreendem minha mente, parada, sem vontade em percorrer
Os caminhos, as lembranças, tudo aqui por renascer.
Hoje é dia de magia, mas é dia de crescer, pois quem fui no mesmo dia
Com aquelas esperanças, velhos sonhos, velhas ânsias
Amizades por fazer, e quem sabe até mais
Tudo vem, perspectiva de poder voltar atrás.
Uma eclíptica, doze meses... Foi um ano, e, às vezes
Me pergunto: por que o meu peito não se esquece?
Minhas mãos, que tanto amaram
Sustentam a cabeça, preparada a pender,
E os lábios, hoje calados, tomam forma de um beijo
O singelo e doce beijo, que jamais eu irei ter.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre o que não brilha


Mancha escura, olhos desfocados
Homens livres que percebem
Que da grama onde deitam, ou da água de que bebem
Correm sombras, os desejos quebrantados
A luz negra que escorre
Em penumbra seca encobre
Corações mais desolados.
Tão sombrio que a própria morte,
Cujos nós acorrentados
Ao lançar de sua sorte
Caem rígidos, quebrados,
Não encontra quem conforte
Sob os braços, que não brilham, mas apenas
Rodopiam sem destino
Nestes solos já lavrados.

domingo, 13 de julho de 2008

Sobre o que brilha


É tudo, é parte do que foi perdido,
Do que não caiu em esquecimento
E persiste em criar, atiçar qualquer sentido
Como brilho cujo cheiro vem com vento.
Esmeraldas, gemas, pérolas, rubis
Brilho úmido, olhos cheios
Colos calmos, sem rodeios
Passo firme, braço alheio,
Tudo do que foi perdido
Tudo brilha, tudo é cor
Mas é brilho verdadeiro
O que escorre quando há dor.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Quase livre


Em buzinas, folhas, fuligem e prédios os meus olhos se perdiam
Caminhando loucos por vitrines, mas tão calmos que pendiam
Leves, longe da cabeça distraída que buscava algum sustento
E do vento agressivo que fazia desatento, a qualquer gesto,
Palavra, cor, sentimento, fosse falso ou mesmo honesto.
Som algum pôde sequer prever, que em porta ou janela
Os meus pés ingenuamente fossem ao encontro dela.
E o sol, abençoado seja, se escondeu para não ver,
Tinha medo da desgraça, ou quem sabe da trapaça que podia suceder
De um abraço tão sem graça, de sorrisos por fazer...
E quando o coração tão calmo se prostrou,
Parecia turvo, confuso, incerto, surdo ou em simples acalanto
Eram tudo, tudo em frente se mostrou
Mas qualquer parcela aguda demonstrava sequer pranto.
Qual mais a amenizar qualquer martírio ou desconforto
Uma piada ali mesmo estendia, duro e morto
Velhos dias, velhas noites, minhas letras e meu canto.
E foi logo: rápido, claro, e quase indolor
Nossas mãos se apertaram, frias, sem qualquer amor,
E trocando nada mais que poucas gotas de suor
Nossos passos se afastaram, nada mais a declarar,
Foi-se logo tudo embora, o caminho eu sei de cor.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Estrada de terra



E que da lama que em meus sapatos ficou

Se alimente o chão em que eu pisar,

E que se formem flores, grama,

E que nada deixe a desejar...

Que do sol, a tristeza que emana

Seque em panos soltos em varais

E que os sonhos que a mente tanto ama

Se percebam nos chás e jornais

Pois são tantas as colchas, os tetos, os sons, os afetos, os tons, os incertos, os tais e afins

Se diga o que diga, que se mate a fadiga

Hoje os meios implicam os fins...

E que da água que em meu olho brotou

Se saciem as plantas sobre as quais me deitei,

E que se tornem belas, claras,

Como o sorriso que há tanto dei...

Que das nuvens, o período se encurte

E que da chuva caia o certo, o que repercute,

Pois são tantos os solos, os colos, os bancos e os novos,

Que da chuva floresçam os povos

E da água se forme a lama.

Os meus sapatos já estão sujos de barro,

Que eu possa pantar bananeiras...

"O sol já nasceu na estrada nova, e mesmo que eu impeça, ele vai brilhar"

sexta-feira, 13 de junho de 2008



Perceba, meu amigo, quando você abre a porta dos bares, ninguém olha para você. Ou me diga: você é requisitado e procurado por todos? Ah, conte outra! O bar é cheio demais... Cada copo esvaziado é sangue que não circulou durante o dia, e sua presença representa, no mínimo, um coágulo. Páscoa, Sexta-feira santa, Natal, Ano Novo... Os mesmos parceiros de mesa? Perguntam ao menos como foi sua noite? Ah, conte outra!

Eu não sei dizer, mas aquele velho barco que atracou
Não parece estranho para mim
Eu não sei dizer,
mas aquela rua que ontem vi,
Alguma vez já esqteve aqui
e eu já vi tanto nessa vida... eu te digo não esqueço o que vi,
mas aquela rua e o barco estão ali,
no meu sonho, no meu pranto e no meu canto, como estão aqui.
Eu sei que aquele barco um dia vai partir,
por aquela estrada por onde eu vi
e aquele velho poço vai secar quando eu perceber que está na hora
está na hora de ir
E tudo isso que eu vi, um dia não estará mais ali,
mas a velha estrada há de permanecer, há de vir
e eu sei que tudo isso que eu já vi, não passa de sonho
quando eu digo que aquele barco esta ali e parece que acabou,
mas aquelas nevoas lá estão quando eu me dou conta de onde estou
eu percebo o tanto de paixão e ao perceber lá tantos lugares no meu sonho,eu me encontro em paz com o meu eu ... ao me encontrar lá eu em paz deito e choro ao saber que amor você me deu. Ao saber que amor você me deu... sem o seu amor não sou mais eu.

Os mesmos parceiros de mesa, depois disso?

AH, CONTE OUTRA!

sexta-feira, 6 de junho de 2008


Pense o que seja, em risos ou prantos
Seus sonhos se pungem em largos quebrantos
Perdidos em ilhas, jogados num canto
Enquanto a blasfêmia preenche o encanto
E em queima de fogos lacera de espanto.
Manta de sombras, que cobre, que quebra
Que mata de amores, cinismo, e celebra
Que a ilha que fui hoje em pedras e palha
Em águas imundas derrete e se espalha.
Qual um grito de guerra perdido
Um sufoco de medo banido
Ao que era perfeito, e hoje esquecido.
Geleira que morre, em águas escorre
E à água que escorre, então nada ocorre.
Seja o que pense, em tudo um porém
As águas se calam, e a vida também.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Neve e fogo


Mar de garoa... Mar de tristezas...
"Toma pois o cajado na mão, Ele é o que é"

quinta-feira, 15 de maio de 2008


Cabeça baixa, olhos fixos na xícara de café sobre a pequena mesa. A toalha era engraçada, possuía detalhes diversos. Não desses bordados, ou sequer planejados previamente. Gostou de observar os pequenos rasgos, as manchas de café, chá ou qualquer outra bebida que tivesse caído ali. Quantos já haveriam vomitado seus sentimentos sobre aquele pedaço de pano que nada podia fazer senão gentilmente escutar?
Queria poder estar vestindo algo mais leve. O cachecol arranhava a pele de seu pescoço, e o couro grosso das calças e da jaqueta o faziam suar frio dentro dos trajes. Uma bermuda e uma camiseta florida, à turistas. Isso pareceria cair bem, não fizesse o frio que fazia às dez da noite.
Ouvia de longe buzinas de carros, passos apressados... "Hora de dormir, apressada cidade". Todos voltando a suas residências, certamente ao encontro de uma quente cama, ou de um sofá de frente para a Televisão, convidativo a assistir à sessão de filmes após a novela.
Naquele bar não havia mais de oito pessoas... Se não fossem considerados os garçons, o número cairia à metade. Não fazia barulho. A luz avermelhada do teto entrava em ressonância com a amarelada que penetrava a vidraça transparente da grande e única janela do estabelecimento. Ao tocar suavemente as gotas condensadas de água aderidas à superfície do vidro, a luz cintilava fortemente. Não sabia o motivo, mas aquilo lembrava Natal. Bem que o natal poderia estar mais próximo... O ano não teria tanto a que correr.
Quando foi aberta a porta, um vento frio apressou-se em abrigar-se dentro do local, fazendo todos estremecerem por um breve instante. Foi breve, logo depois o calor abafado voltou a aquecer as bochechas de todos.
A senhora andava sem pressa. Carregava somente um guarda-chuvas e um buquê de flores nas mãos ossudas.
Percebeu muito rapidamente. "Há tantos lugares vagos", pensou. Não importou, a senhora continuou dirigindo-se à cadeira vazia em frente à xícara de café.
"Boa noite!"
"... Boa noite..."
"Você se importa?"
"Bom, não exatamente, eu apenas..."
"Ótimo, então deixe-me sentar"
Silêncio... Somente silêncio...
(Afinal, por que justamente aqui? Havia tantos lugares para se sentar)
"Erhn, ouça senhora, eu..."
"Ah, muito prazer, eu me chamo Vida."
"Vida? Esse é seu nome?"
"Sim senhor...
Bom, estou me sentindo só hoje... importa-se em conversar?"
"Eu, é... Bom, eu..."
"Você também se sente só, eu percebo isso... Conversemos?"
"Bem... Ah certo, conversemos."
Cada palavra parecia forçada de início. Uma conversa politizada. Não sabia lidar direito com Vida. Aliás, algo o fazia pensar em como estava se tratando, em como estava seu próprio ser. A conversa estava difícil, distraía-se com facilidade.
Pouco depois de meia hora, Vida lhe fez pensar no que não pensava há tempos.
"Desculpe-me senhor, qual é seu nome?"
"Meu... nome?"
"Sim sim, conversamos sobre o tempo, sobre a noite, sobre o café... Julgo saber bastante sobre o café que está a beber, mas não sei seu nome"
"Bom, me chamo Íntimo"
"Íntimo... Belo nome... Senhor Íntimo"
"Hah, não me chame de senhor, por favor! Pareço ter menos idade que você!"
"Ah, então está certo... "Seu" Íntimo, está melhor assim?"
"Já é alguma coisa!"
Naquele momento o gelo havia quebrado. Não havia qualquer trava em sua garganta que o impedisse de conversar com a mulher. Uma calma e sem emoções Vida começou a lhe contar em como havia ido levar flores ao cemitério, para seu falecido marido.
"... O frio, no entanto, está bastante forte... O cemitério é bastante longe daqui..."
"Compreendo..."
Ahh, ao falar em como vivia isolada, muitas vezes até esquecida, Vida transparecia uma tristeza imensa, uma tristeza que "Seu" Íntimo conhecia muito bem...
"Ouça "Seu" Íntimo, sinto deixá-lo só, mas é tarde, e preciso ir para casa... Está frio, e eu tenho uma longa caminhada a fazer"
"Ora Vida, se eu tivesse carro, ofereceria uma carona... Mas eu não posso deixá-la sozinha assim... Eu a acompanho até sua casa"
"Ah, não se incomode! É um pouco longe"
"De jeito maneira, eu insisto!"
Realmente, o local era longe. "Seu" Íntimo, contudo, não se incomodou nem um pouco. Os detalhes descritos por Vida, as dicas e conselhos trocados no caminho o fizeram esquecer qualquer pressa ou sono, ou até cansaço.
Ao chegarem à casa de Vida, a senhora gentilmente agradeceu, entregando-lhe o buquê de flores.
"Meu marido está morto mesmo não? Aposto que ele me diria para entregar as flores a "Seu" Íntimo!"
Agradeceu as flores, e rapidamente viu Vida entrar em sua casa.
Foi algo muito esquisito, o final da noite. Realmente havia seguido Vida até ali? E, de repente, Vida havia se trancado de forma tão abrupta em sua casa?
Na verdade, pouco lhe importou... Seguiu o caminho de volta, até o bar. Entrou pela segunda vez no local, o calor repentino invadindo suas narinas.
A garçonete logo veio atendê-lo: "Deseja algo moço?"
"Sim sim, desejo uma xícara de café dona..."
"Lembrança moço, me chamo Lembrança!"
"Ah certo, obrigado"
Sentou-se em sua mesa, olhando fixamente para as flores que Vida lhe dera. Logo seu café estaria pronto, e ele agradeceria a Lembrança, pensando em como Vida fizera bem a "Seu Íntimo" naquela noite.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Mescla

Olha só, o sol se pôs na velha foto
E na televisão como se fosse um disco
Um disco sempre a rodar naquela imensidão
Que abrange a cidade, o rio, a praia , a selva, a relva a rua clara e a serra do mar
Curto como um pavio de vela que parece apagar
No fio de trevas de que me impede de falar
Olha só as tantas coisas que eu queria dizer, ou que podia fazer
No escuro sem acordar
Sem medo de esquecer ou até parecer um simples desabafar
Sendo que eram prazer, amor, clareza, luar,
Como a minha vontade de cantar
Dizendo assim, nem pareço eu
Acontece que aconteceu
Eu me deitei sobre domínios,
Eu encontrei o seu olhar
Eu desprezei os raciocínios
Me joguei no seu mar.
Olha só, aquela rua, aquela praça,
Aquela igreja, aquele banco, aquele branco, tudo de perfil
Parecendo chamar lembranças, sonhos mil, parcelas, frio, calor sutil, memória, anil
Janela, abril, novembro indo por lá, por meios de janeiro, março, fevereiro, junho, (mal) e julho, enfim, quando tudo passou a se ajeitar
Dito assim, tudo se ofuscou
E seu brilho me encantou
Eu me acalmei em seus carinhos
Eu me aninhei ao te abraçar
Ah, minha rosa sem espinhos
Incapaz de murchar.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Banco velho, "banco" um novo

Bom, companheiro, eu vim aqui pra lhe falar
Das palavras tranqüilas que esqueci de pronunciar
E nas noites mais frias quando o chá descia minha garganta
Eu calava minha face com a velha e morna manta
Ah, companheiro, se eu pudesse lhe explicar
Nessa vida os prazeres nunca deram por faltar
Tantas tardes de baralho sobre a mesa de bilhar
Mas minha realidade anseiava atravessar.
E de tal maneira como um grito que se tem que segurar
A vertigem e o tédio começavam a vibrar.
Meu companheiro, por favor tente entender
Não se trata de vergonha, pressa, horror ou sofrimento
E tão logo como o copo que esvazio no momento
Me cobri de couro e lã, me coloquei em movimento.
Saí num dia frio, às cinco da manhã
Um cachecol em meu pescoço, um cigarro em minha mão
Na mente a ingênua e promissora idéia do amanhã
A utopia da perfeita venerável solidão.
Mas, companheiro, me permita lhe dizer
Eu nem mesmo desejava e me esforçava em parecer
Decidido ou confiante, não tentava entender
Os meus olhos me guiavam e bastava obedecer.
Decidi de me atrasar, os horários podiam esperar
Eu não tinha compromisso, eu não tinha a que faltar
Eu não tinha nenhum vício a tentar me segurar.
Tratei calma e vagarosamente então de me sentar
Naquele velho banco que estou a lhe apontar.
Senti o vento frio a me alisar
E o cheiro de meu corpo começou a me agradar.
É estranho, companheiro, você pode até chamar
De loucura, narcisismo, eu lá a me admirar
Companheiro, a verdade é que os dias passavam
E os rostos à minha frente meus olhos assimilavam
E de dias, foram meses e anos se transformavam
Tantos rostos à minha frente, minha imagem ofuscavam.
Me lembrei do gosto amargo do café que eu bebia
Recordei do cheiro fraco dos jornais que recebia
Encontrei naquele espaço velhos versos que escrevia
E naquela solidão eu me invadia de alegria.
Veja só, meu companheiro, foram dias sendo assim
Eu sozinho descobria um pouco mais, e mais de mim
Ao sentar naquele banco, companheiro,
Não havia cor, nem gosto ou cheiro
Que espantasse de meus sonhos o que era verdadeiro.
E a verdade, eu lhe digo, pode sim se ser feliz
Quando se está sozinho, e foi o que eu fiz.
Mas se pensa, companheiro, que a história acaba aqui
Ficará desapontado ao constatar que cá estou
Não se apresse em ir embora por aquela porta ali
Eu prometo, serei breve em contar o que passou.
Comecei a me esquecer do que me levara então
Àquele banco escondido e longe da multidão
O meu cheiro, companheiro, começou a parecer
Muito fraco, tão mais que o dos jornais que costumava ler
Não havia mais café, a alegria me sumia
Procurava velhos versos e porém não conseguia
Eu sozinho ali no banco, nem de longe eu sorria
Nem no velho e bom cigarro enxergava alegria.
Companheiro, eu lhe digo, não estou desesperado
Eu falo tranqülamente, eu não sou precipitado
Acontece, companheiro, que ao estar ali sentado
Tentava me esquecer do que fora meu passado.
Pareço agora, então, um tolo envergonhado
Companheiro, ouça bem, hoje sou desenganado.
Bom, companheiro, estou aqui pra lhe falar
Que ser só é necessário, mas não pode se durar
Ao largar qualquer amigo, amor, família ou vício
Eu me vi alegre, forte, mas foi somente no início.
Olhe bem à face deste que fez de ser só, um ofício
Ser sozinho nos limita, ser sozinho é um sacrifício
Então, companheiro, trate logo de correr
Atravesse agora mesmo o corredor até os ver.
Companheiro, apague logo o cigarro no cinzeiro
Ah, corre logo, ainda há tempo de encontrar qualquer parceiro
E se for tão sufocante a idéia de um abraço
Basta então olhar nos olhos e começar: "Bom, companheiro..."

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Calendário




Mudança de ser, e quem sabe
O crescer de uma mesma criança
Quem não nasce não vê e não sabe
Que o poder de quem tem não alcança
Mudança de estar, de pensar
E, tão logo, de correr no colchão
Só pensar não garante
Só estar não suporta
Só correr não basta.
Tão somente, um de certo, um porém
Um só ser que se senta
Pára, julga-se alguém
Não sorri e nem mesmo sustenta.
Tempo passa, o passar não mantém
E se deita, e quem era alguém ontem
Hoje não é mais ninguém.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Enchente no Mar da garoa...


Empresto a oculta cardiologia
Cuja permissão não me foi concedida.
Talvez devida necessidade
Iria permitir o último nascer do sol.
A algoz aurora já se foi...
Eficaz como um eco ressonante no universo
Eternos como a loucura que perdi
Que não hei de reencontrar.
Olhe a face da madrugada;
Se lhe nego uma última dança
Lhe peço um último suspiro.
Ah, maldita medula seca!
Hei algum dia de arrepiar-me com tais compassos?
Lamentar a ida das nuvens
Em tentativas frenéticas de ressucitar o sol
No inconsciente desejo de outra noite de chuva.
As jovens pautas levantam vôo;
E eu, alucinado, buscando incertezas.
Grande audácia num estonteante espetáculo
E uma ensaiada queda no vale de ossos.
Irei lembrar do velho pinheiro
Entre a potência sulfúrica dos lamentos;
Da louca maçaneta rangendo por sob a escápula
Como as labaredas pessimistas
Cuja força não suporta seu próprio sarcasmo;
Pois há de olhar os pequenos flagelos
Como uma fonte de grito
Sufocado em sua enorme porção.
Perceberá de minha doença
E, turgidamente,
Seu manto há de se expandir
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O que sobra ferve
O que ferve sangra
O que sangra seca
O que seca expande
O que expande sua
O que sua molha
O que molha dói
O que dói cai
O que cai sobra...
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Aquele que ver
Verdade serena
Serenatas de um ser
Será uma pena.
Penalidade vermelha,
Versátil estou...
Estoura centelha
Centrífoga entrou.
Entrego o carisma
Carimbado de miss
Misericórdia que cisma
Cinzenta e feliz.
Fel grande... quem sabe
Saboreasse o anis,
Anistias à parte,
Partiu-se feito giz.
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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Vermelho "vida"



Contradições... Pensamentos incertos. Tudo em vermelho, ou parece ser... Vermelho como o que nunca soube dizer... Como nunca serei capaz de enxergar.
Dizem que os daltônicos enxergam 30% menos cores que as pessoas normais. Mundo sem cores... Concentro-me nas cores vivas. Mexem-se inquietas. Busco delas os 30% que não enxergo. Pergunto-me: seria eu capaz de citar as cores de minha vida? Aquelas as quais correm comigo no parque, conversam simpaticamente quando me deito na grama. Suam ao acompanhar meus passos de casa até o shopping, levam chuvas incrivelmente doloridas! Levam certeiros pedaços de granizo nas orelhas ou nos olhos ao meu lado. Dançam forró comigo, bizarramente (essa palavra existe?). Parceiras de cantorias, muzicalizadas.... Respeitosas e dignas de respeito. Admiradoras e dignas de admiração.
Aturam "trepaliums" ao meu lado... Sofrem humilhações diversas, sofrem intensamente comigo. Mas também riem se eu rir. Cores um tanto vivas, dotadas de movimento.
Cores... Essa palavra nunca me agradou muito. Agora percebo que esse Mar de garoa que é o mundo nada seria sem cores... Cores que se deitam na areia ao seu lado, olham para o céu e vêm o mar... Vermelho, eu disse? Talvez o grande vermelho seja eu... A única cor que não sei realmente qual é.