domingo, 13 de setembro de 2009

"...Sim"


Ela foi o brilho que meus olhos jamais tiveram. Quando a vi pela primeira vez, seus cabelos eram longos, caíam muito abaixo das costas. Era noite, estava tudo meio fosco e, mesmo assim, eu não podia acreditar no que meus olhos viam. Depois daquela noite, o medo que tive de não vê-la mais desapareceu quando a resposta ao meu primeiro convite foi um "sim". E, eu simplesmente não conseguia entender o que meu coração tanto pulsava a cada passo trocado, cada palavra proferida. Eu tinha o mundo nas mãos, e a alegria dentro de mim. Certa manhã combinamos um café. Era um dia ensolarado, um pouquinho frio, mas muito brilhante. Foi quando nos sentamos em um banco sob uma árvore. Os raios de sol invadiam as brechas entre as folhas, dourando seu rosto e seus cabelos, e eu só pensava em quanto não queria morrer naquele momento. Foi nosso primeiro beijo, e eu o guardo com a maior ternura dentro do peito. Desde então, comecei a conhecer o mundo de forma diferente, o perfume de forma mais profunda, comecei a entender que poesia não existe somente quando escrevemos. Descobri que em um beijo íntimo, podemos trocar palavras, como se pensamentos fossem trocados no instante em que os olhos se fecham e os corpos se tocam. Tínhamos um gosto em comum: Oswaldo Montenegro. Fui paciente, esperei Oswaldo marcar seu show em Curitiba, e quando isso aconteceu, comprei um par simples de alianças de prata. Coisa um pouco clichê hoje em dia, mas sempre achei bonito. Esperei até a noite do show, guardando aquela caixa somente para mim. Foi na noite do show que conversei com Oswaldo e o levei para apresentar a ela... Deus, como foi uma coincidência bela. Depois daquele acontecido, eu entreguei a ela a chave de meu coração, e lhe disse: estou entregando a você meu coração, só precisa responder se não ou se sim. Ela nada disse, beijou-me com a mesma intensidade de outras vezes, e depois sussurrou em minha orelha... Um "sim" tão baixinho que somente eu pude ouvir, mas que meu coração sentiu como fosse um estrondo de intensidade máxima. Digo até hoje, quando lembro do show que se seguiu, e do quanto chorei naquele dia, que foi a noite mais perfeita de minha vida. Desde então, eu nunca deixei de demonstrar o quanto estava disposto a fazer de tudo por ela. Mas o tempo sempre passa, e nem todos mudam da mesma forma. Vi seus cabelos serem cortados à altura dos ombros, vi sua pessoa ir se moldando aos poucos. E aos poucos, o que fazia passou a se tornar insuficiente para alimentar os desejos dela, ou os sonhos dela. Não importa quantas músicas você componha, ou quantas vezes ressalte que ama alguém. Quando uma pessoa passa a não conseguir mais dizer "eu também amo você", o destino já está traçado: o fim.
Foram dez meses com a auréola prateada em meu anelar, e desde então, em todos os meses que se seguiram eu me pergunto como fui perdê-la. O brilho que meus olhos jamais tiveram, a pessoa que mais amei em minha existência.
Às vezes, quando estou acordado de noite, ainda consigo enxergar seus olhos me observando, com aquela timidez lá da primeira noite, com a inocência dos primeiros meses. E, no momento em que meu coração se acelera, uma torrente de lembranças traz o V, o A, o N, o I, e o A que escreviam seu nome.
No instante em que fecho meus olhos, em qualquer momento, inclusive aqui, escrevendo isso, consigo escutar, bem baixinho em minhas orelhas, uma palavra que somente eu consegui ouvir, mas que reverbera sempre que meus olhos se fecham: "sim".
Sim... Vânia foi o meu único amor verdadeiro.

sábado, 5 de setembro de 2009

(O Mar de Garoa)



Perguntei-me o que é ilha... "Qualquer coisa que se desprender de qualquer continente". Ilhas são nossas vidas, nossos gostos, nossos gestos, tudo jogado ao vento da sorte e ao mar do acaso. O que fazemos com o pacote imenso que carregamos em nossas costas, muitas vezes como um fardo, não é como costumamos dizer "problema nosso". Acima disso, não são problemas, são escolhas. Uma lembrança bem guardada não é um problema; uma situação ruim bem-aceita não é uma tristeza. O conjunto de todas as vertentes que nos induzem a ser quem somos não é "problema nosso", é "escolha nossa". E, dessa forma, nos tornamos ilhas escolhendo em que mar navegamos.
Cada um cria seu mar, cada um se insere em um meio. E flutuam ou afundam, nadam ou se afogam. Seu mar é seu melhor amigo, mas seu maior desafio.
Mar de Garoa surgiu, e com ele cada palavra que de meus dedos se criam sobre essas teclas. Mudar do papel foi um desafio, e criar o conceito que me fez mergulhar de cabeça na idéia de um oceano assim, minha maior alegria.
Não se trata de quantas pessoas visitam o meu site, ou quantas deixam comentários a cada postagem nova... O Mar de Garoa é, antes de mais nada, o mar que escolhi criar. Minhas lembranças ficam guardadas aqui, sejam boas ou ruins. Meus sonhos ficam boiando por aqui, esperando o momento certo para se realizarem. "Navegar é preciso", antes de mais ninguém , para mim mesmo. Deixar uma postagem nova aqui representa se deixar guiar pelas águas que escolhi criar... Um mar de águas doces, gerado pelo suave cair das gotas de uma garoa. Em tais momentos, as águas são calmas, cristalinas, e as ondas são somente marolas. Eventualmente, tribulações acontecem, e uma tempestade agita o repouso em que meu mar se encontra, mas tudo sempre se ajeita voltando à garoa.
Navego no dia hoje sem poesia por aqui... Sem esforço em tornar as palavras mais bem-empregadas e estetizadas. É mais uma espécie de "esclarecimento" às pessoas que, eventualmente, passem por aqui para navegar uma vez ou outra, mesmo que essas pessoas não sejam em grande número.
É sempre um prazer recebê-los, poder saber que esse Mar, por mais que criação minha, é de quem quiser nele mergulhar. Os comentários são para tal, para que as palavras se mesclem por aqui e se façam entender, da forma mais profunda e saborosa.

"Palavras jogadas ao mar"... Quem disse que é perda de tempo, afinal?!