sábado, 30 de janeiro de 2010

A tua Lua



Ah, menina, hoje eu sinto que somos distantes
No mesmo universo, mas com o mesmo universo de gente,
E a pedra de gelo que esfria teu rosto, deixando um rastro no canto da boca
Uma gota que escorre e decai sobre mim...
Hoje eu senti o seu gosto no meu travesseiro
Seu cheiro na roupa, e o seu corpo no vento da noite
E o meu gesto de puro pesar, desespero
Podendo acordar por inteiro e te ver muito longe a mim...
Ah, menina, hoje eu sinto que somos distantes
De dois universos, mas seu rosto ganhou minha mente.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Execrável




Quem tem medo do escuro já pressente...
É aquela sensação de corpo que raspa corpo, de dente que trinca dente
O medo de se achar sozinho numa noite escura num lugar aberto
Às orelhas aguçadas ao menor barulho incerto.
E tudo se cobre com frio, gelo se paga com gelo
E no momento em que o gelo toca o pêlo, não há apelo que faça derretê-lo
Só restam o frio e o medo, sem meio e enredo, em um longo pesadelo.
... É aquele gosto de ferro que arranha ferro, de dente que morde dente
O sangue que escorre a fio diante da rua, em frente ao corpo nu e morto
E a caveira vermelha que se lança, dura, como mariposa.
Deus... Cada coisa me assusta...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Amantes sobrepostos.



O tempo e a distância são amantes no momento
Em que contornam o espaço em relevância do que se diz sentimento.
São dez passos pela noite escura, e talvez
A distância lhe cause paúra, que por vez
Entorpece o poema em rasura, pois distância, apesar de se medir
Apesar de ser real, a distância é abstrata, é capaz de se sentir.
São dez horas pelo mundo afora, e assim
Tempo passa, mas não vai embora, e por fim
O futuro chega e se torna agora, pois o tempo, apesar de mensurável
Apesar de ser real, e de ser quase palpável, é capaz de destruir.
E a tormenta só se segue caso não haja esperança,
Mas se o tempo e a distância se colocam em plena dança
Sobrepondo-se um no outro, em um simples movimento
A tormenta desses ambos engrandece um sentimento
Um talvez tão poderoso que supere espaço e tempo...
O tempo e a distância são amantes no momento
Em que fazem dois espaços se amarem em pleno tempo.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Eclíptica- 09 de março de 2008



NOTA:
Quando escrevi o primeiro texto com o nome de "Eclíptica" aqui no Mar de Garoa, a minha idéia era abrir espaço para posteriores textos de mesmo nome... Nunca vi isso como um compromisso,e, para ser sincero, nunca enxerguei isso com clareza.
No entanto, o baque de 2010 somente me atingiu no dia 03 de janeiro, e pode-se dizer que minha ficha caiu. De certa forma, as lembranças que mais me pungem são muito fortes quando o peso de qualquer Eclíptica resolve se revelar. Uma lembrança em especial me assoma... Aquela que meu coração tem receio de se lembrar, mas não consegue fazer o contrário.
Realmente, não acredito que esteja preso a tal lembrança, ou que dependa dela ainda para me sustentar. Há, contudo, uma quantidade incrível de minha arte que dependeu dela. E para um artista, ler ou ouvir qualquer pedaço de arte é chegar muito perto da emoção que o atingiu no primeiro momento em que aquela arte mostrou sinais de contato.
Não tento me justificar mais a partir desse ponto. Todos os textos que aqui forem intitulados sob o nome "Eclíptica", se é que mais algum virá, fará referência ao mesmo tema, à mesma lembrança... Contudo, o intuito é reviver, e sim preservar o valor artístico do que nele há, porque, independente do sentimento, a arte é linda, sob quaisquer circunstâncias.
No dia 09 de março de 2008 eu parafraseei Oswaldo Montenegro, com sua bela música "Andando e Andando em Copacabana", como uma forma de expressar em arte o que eu não conseguiria sozinho... Agradeço, mais uma vez, a Oswaldo Montenegro, o artista dos artistas...


"Eu tava andando à Curitibana, assim com jeito de fim de semana
E vi alguém interpretando um drama em peça teatral.
Sentei no chão, deitei-me sobre a grama
Achei perfeita a companhia (Vânia) no museu
Achei você sensacional.
Não é que seja uma visão sacana, pois você minha Nina até hoje se ufana
De ter visto Rita Lee no original.
Esqueça a lagarta que encontrei na planta,
Chame de gangorra o que pareceu prancha
E venha me abraçar com jeito excepcional.
Eu não sou leve, não sou carregado, e você pergunta
Quando eu te carrego, se eu estou cansado, e eu não levo a mal.
Eu continuo à Curitibana, com saudades suas, com aquela estranha sensação
Que longe de você pareço estar meio sem sal.
Mudei de cor pra ver se a coisa muda, mas o daltonismo hoje não me ajuda
Ah meu Deus, valei minha Princesa, acuda, longe de você tô mal.
E ainda que pesem na minha balança as minhas mancadas, a gente se ama
Hoje eu digo alto o que o coração manda: Você é excepcional"


... A Eclíptica que varra qualquer melancolia, a partir de agora... Se isso é uma afirmação ou uma prece, eu ainda não sei dizer...