terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Colcha de retalhos



Era como se nada tivesse acontecido,

Pois quem é que diz que a realidade avança?

Como quem cria seus próprios personagens,

Como quem passa seus dias isolado,

Mas era como quem era feliz com o que tinha,

Mas era como quem sabia o que queria...

Como quem brinca de voar

Mas voa ao perceber que a vida está aqui.

Como quem brinca de dançar,

Mas dança ao ver que tem motivos para tal.

Era como se nada tivesse acontecido,

Mas era como se o que inventara fosse real.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Abismo moral


Caso Deus me perguntasse qual foi a mais impressionante paisagem que Ele criou, certamente eu responderia com o mar. Existe alguma força lá... Existe algo que me deixa impressionado. Não que eu o veja com freqüência, entretanto algo nele me pasma.
Algo naquela imensidão, naquele vai e vem de águas. O mar é a vida que levamos, as escolhas que fazemos (ou não fazemos), no que acreditamos ou deixamos de acreditar. Por que não associá-los?



Cada rio
Busca outro
Pra descer
Desembocar
Se perder
E acabar
... O rio acaba, o mar se nutre.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Vícios no espelho

Pegou-se, pela primeira vez , divagando. Olhava a vitrine como que hipnotizado... Abriu lentamente o pacote de batatas fritas, encostando a orelha direita no plástico. Sempre fazia aquilo, gostava de imaginar que cada batata se jogava ao fundo do pacote, aos gritos, tentando fugir.
Chovia. Não uma tempestade de verão, mas uma leve garoa. Virou-se para a direita e notou o ébrio caído no chão, dormindo ou desmaiado, não soube dizer. As roupas um tanto surradas, agora com pequeninas marcas escurecidas causadas pelas gotas de chuva que nela se instalavam.
Logo perdeu o interesse. Era sempre assim, nada prendia sua atenção por muito tempo. Mas aquela vitrine, certamente havia algo lá que fugia à regra. Havia sido uma manhã costumeira. Calçou as Havaianas ao sair da cama e dirigiu-se à cozinha, pisando o chão com o pé todo, mas ao findar de um passo, levantando somente o calcanhar, fazendo o chinelo estalar na sola so pé. Achava divertido... Tomou uma enorme caneca d'água (café não lhe fazia bem), e deslocou-se à porta, sem mais preocupar-se com o som que seus pés faziam.
Dividia-se o seu dia em momentos fáceis e difíceis. Os fáceis, considerava ele, o acordar e o dormir. O passar o dia, contudo, era uma tortura. Ficava na mesma rua, voltada para a praça. Lá, passava as manhãs e as tardes sentado sobre uma pequena pedra ao lado de um banco. Observava em silêncio o movimento, analisava friamente as pessoas, buscava algo em que seus olhos pudessem se prender por mais de cinco segundos. Quando chegava o fim da tarde, dirigia-se à sua casa, sem ter encontrado nada digno de atenção.
Sob aquela suave garoa, porém, não tirava os olhos da vitrine. Não entendia o motivo. Virou-se novamente para os lados, fixando os olhos em um cachorro que vinha mancando pela praça. O cachorro deitou-se sobre aquela pedra onde ele mesmo estava sentado vinte minutos atrás.
Jogou mais uma batata em sua boca. Tentou imaginá-la gritando, pedindo clemência. Novamente olhou para a vitrine. Em qualquer dia anterior, não havia chamado muita atenção. Sequer lembrava o que o vidro abrigava outrora. Naquele dia, para sua surpresa, fixou-se no objeto. Cinco segundos, dez segundos, dez minutos, vinte minutos. Pegou-se divagando. Lembrando tantas coisas. Desde que dia sua vida passou a se resumir a uma rotina viciosa? Pegou-se divagando, procurando a resposta.

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Era tarde. Mais tarde do que de costume. Não fosse o sono, teria permanecido lá por mais algum tempo. Quando desviou os olhos da vitrine e virou-se, caminhou em direção a sua casa, esforçando-se em não olhar oara trás. Não se conteve, deu uma última olhada, sem parar de andar. O homem olhou para ele também, sem parar de andar, imitando todos os seus gestos.

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É, no mínimo, impactante olhar para o passado. Em 2005 já havia avistado vícios n espelho... Não penso da mesma forma, mas vale a lembrança...

Ao tentar ser eu mesmo,
Tentava avançar sobre certas barreiras.E ao mesmo tempo,
Tentava criar minhas próprias leis.
Tentava fugir de coisas que me aterrorizavam,
Tentava fugir do que não me aterrorizava,
Tentava fugir do que não existia.
Tentava buscar o que todos buscam
Tentava encontrar o que ninguém encontrara.
Tentava passar despercebido,
Tentava perceber o óbvio
Tentava clarear o abismo dentro de mim
Tentava escurecer o que tinha medo de descobrir.
Tentava perceber que a vida não é feita de ilusões,
Tentava criá-las para fazer o tempo passar mais rápido.
Tentava aconselhar com o que me haviam ensinado,
Tentava ao mesmo tempo, desviar-me destes conselhos.
Tentava esquecer o que realmente me fazia feliz,
Tentava buscar novas felicidades no inexistente
Tentava abrir os olhos de quem tinha uma chance,
Tentava encontrar uma chance perdida no caminho.
Tentava gritar minha dor para o mundo inteiro,
Tentava abafar os gritos do resto do mundo.
Tentava fazer dormir os que há muito vagavam sem rumo
Tentava fazer acordar os que há muito dormiam sem sonhos,
Tentava dormir para poder sonhar
Tentava acordar para não ter mais que dormir.
Tentava fechar meus olhos e imaginar,
Tentava imaginar-me de olhos abertos.
Tentava erguer a cabeça e andar em frente
Tentava retroceder, com medo dos obstáculos,
Tentava criá-los para afastar o que temia
Tentava ao mesmo tempo, não temê-los.
Tentava ser indiscreto para chamar mais atenção,
Tentava não me arrepender, e voltava à discrição.
Tentava filmar as brincadeiras da minha infância,
Tentava lembrar-me como me sentia em tais brincadeiras.
Tentava encontrar a minha razão,
Tentava não me perder mais do que já estava,
Porque ao tentar ser eu mesmo,
Acabei esquecendo de quem eu era.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Aberto a percepções

Um tanto assim, digamos, esperado. Largaram-se os cadernos e as folhas de papel, a velha caneta BIC (um tanto mal-tratada, diga-se de passagem)... Esquecem-se momentaneamente o cheiro de tinta fresca e o leve som do folhear das páginas. Talvez já fosse tempo. Talvez o sensorialismo tivesse se tornado excessivo. Não em termos contextualizados, apenas no ato de transcrições. Eis a filosofia.
Nada comparado ao leve vibrar de uma corda, ao estalar de uma palheta. Foi-se o tempo em que isso era imperceptível. A nova percepção é resultante do abandono ao sensorialismo. "Pensamos em demasia, sentimos muito pouco". Será? E não é nem da segunda oração que a dúvida surge. Será mesmo que pensamos demais? E até que ponto pensar é um problema? Intriga-me pensar dessa forma.
Chegou-se o ponto: o sentir é independente, mas o pensar depende, por mais pleonástica que a idéia se apresente, do pensar. Ou será que é possível pensar em algo sem antes se pensar em algo que leve ao posterior pensar? Não me leve a mal, não estou querendo fazer a cabeça alheia girar com esta leitura... Tampouco usar-me de recursos viciosos. A questão, todavia, amiúde se imprime: Percepção não é sentimento. Não se trata de uma afirmação, mas de uma conclusão pessoal. Faça um teste: escolha aquela música que o faz vibrar internamente, assista a aquele filme estimulante. Cubra-se de espírito crítico... Vai sentir algo no final?
O asunto pode ser um tanto inútil... Concordo. Doravante há de se postar aqui assuntos dos mais variados. Estou, portanto, aberto a novas percepções.