segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O "eu" "nosso" de cada dia "nos" dai hoje...




Já fantasiei histórias antigas
E sonhei com pessoas demais
Já chamei as flores de amigas
E tomei como exemplo meus pais.
Arranhei o fundo do prato, em momentos de angústia e terror
Estraguei o pé do sapato com formas e ausência de cor.

Eu já fui verdadeiro, eu também já menti
Muitas vezes eu fui corpo inteiro, tantas outras eu já me parti
Procurei num instante certeiro as mulheres que um dia senti.

Arranquei do fundo do peito momentos de mais alta dor
Muitas vezes, deitado no leito, fiz questão de sofrer por amor,
E tentei, como que insatisfeito, reviver os momentos de ardor
Os abraços, os beijos sem jeito, fosse sempre na moça que for.

Já criei muitas formas de vida
E tentei, ante mim, ser um só
Mas no palco descubro, sou muitos
Sou quem quero ser... Caso não, eu sou pó.

sábado, 14 de novembro de 2009

Apuração





Era um garoto que andava sozinho
Enquanto o mundo aumentava, ele ia diminuindo,
Por mais que o tempo passasse, não conseguia ver
E por mais que acompanhasse, e por mais que ele tentasse
Não conseguiria, não podia crer

De sua vida, quase nada importava
Quase tudo fantasia, coisas vis que sonhava
Um instante era tudo o que precisava ter
Para fazer de um sonho mudo, sem momento, sem estudo
A sua maior razão de viver


Ele sonhava em um dia se casar
Rosa, grinalda, subir no altar
A Deus rezava, para lhe entregar
Moça prendada a quem pudesse amar.

Já era um homem e sequer percebia
Que da vida não se leva, não se enxerga, se cria
E assim, como um garoto, só fazia esperar
Que seu mundo, seu romance, estivesse a seu alcance
Sem um dedo precisar nem levantar

Anos passavam a idade aumentando
Mas a mente reduzia, como que compensando
Sua falta de euforia, de harmonia, prazer
Era só monotonia, toda noite, todo dia
Dava dor, até desgosto de ver


De sua morte ninguém saberia
De sua vida não se escreveria
Pois afinal, que graça haveria
Na vida de um homem que diminuía.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Quando a vida não se leva




Deixa, como deixo tudo que passou um dia
Como queixo muito do que não podia
Como mexo em tudo do que não queria.
Deixa, deixa tudo um dia contornar, correr
Tudo o que antes não era, deixa hoje ser
Deixa a noite pelo menos nessa noite ser amanhecer.
Grita, grita pelo sentimento que hoje se calou
Pela tarde de momentos, que acho, já passou
Quebra o clima de silêncio que hoje se instalou.
Fica,como fico pelas noites, só
Como autisto quando o peito faz um nó
Como agito ao perceber que somos pó.

Deita hoje, chora agora, fecha os olhos logo,
Que a vida não se leva enquanto não se rega a agonia
Aumenta essa fogueira cuja dor é que alimenta o fogo,
Sofre logo tudo hoje, amanhã é outro dia.